domingo, 19 de fevereiro de 2012

Capitulo 7 - Apenas o começo.


         Emily assustou-se. Mal podia acreditar que segundos longe de sua vista e Anabelle já teria sofrido outro acidente.
         – O que aconteceu Maryane? – gritou Emily furiosa.
         – Eu não sei! Eu não sou a fada madrinha para ter certeza de tudo. – retorquiu, ofendida. – Ela começou a engasgar-se e caiu. Eu não tive tempo de fazer nada!
         – Engasgar? – interferiu Ralph, preocupado. – Como engasgar?
         – Engasgar, oras, ela começou a tossir e disse que tinha algo prendendo a garganta dela. Depois eu tentei ajuda-lá, mas ela engasgou e caiu. Eu estava muito preocupada para prestar atenção nos detalhes
         Ralph, aparentemente inquieto, correu escadas acima, deixando Emily e Mary com perguntas e preocupações.
         Parando na porta do quarto da pequena Michelle, Ralph depara-se com uma menina nada doce, nem agradável. Rosnava, contorsia-se, e maltratava-se como ninguém nunca jamais vira. Fazia cortes em si mesma, parecia fora do controle.
         A garota, por fim, notara a presença do mais velho. O olhou com tal desprezo, que Ralph começou a sentir a raiva dela penetrando sobre seus sentimentos, tomando conta de todos eles.
         Michelle então despertara os pensamentos de Ralph que, por alguns segundos, haviam sido tomados pela sua raiva. Pulou agressivamente para o menino, derrubando-o. Ralph pensara que seria muito fácil domar esta “fera”.
         Estivera enganado. Com as forças que nenhuma garota de cinco anos poderia ter, a pequena garota tentava morde-lo com grande força.
         Lá em baixo, Emily e Mary reparavam nas feridas que formavam-se nos braços, nas barrigas, e em tudo quanto é lugar sem razão alguma. Emily decidiu subir e ver o que estava acontecendo.
         – Emily…tome cuidado, ok? – pediu Mary.
         – Pode deixar…não deve ser nada demais.
         Emily enganara-se. Quando terminou de subir as escadas, que pareciam ter gerado mais degraus, finalmente deparou-se com uma briga de um adolescente de dezessete anos e uma garotinha de cinco.
            – Ralph! – reclamou a adolescente, chocada.
         – Exempti! – gritou Ralph, e segundos depois Michelle havia voltado a sua aparência normal, e uma criatura parecida como um E.T gritava e pulava no quarto da criança, desesperada. A menina mais nova permanecia desacordada, e o E.T confuso e com falta de ar.
         Michelle finalmente acordou, agora pálida e confusa. Desesperadamente,  o E.T respirou profundamente.
         – Emily…caso queira saber, esse é o…
         – Hignoty, mais conhecido como E.T por possuir caracteristicas que descreveriam um E.T. Tem o poder de assumir um corpo humano, com a maldição de ficar preso à esse corpo para sempre. Enquanto o corpo permanecer vivo, o E.T permanence vivo, e se este corpo morrer, o E.T morre. É uma maldição, muito raro ver um Hignoty decidir ou concordar em assumir tal sacrifício. São muito faceis de serem derrotadas, porém se possuirem algum corpo humano em suas almas, matará também o tal corpo que ele possui. – terminou a garota, como se estivesse lendo em voz alta tudo que dizia.
         – Tia Emily! – brandou Michelle, correndo para seus braços como se esperasse ser socorrida.
         A adolescente educadamente abaixou-se e sorriu para a menina, tentando difícilmente esquecer o que acabara de notar: ela poderia morrer a qualquer segundo.
         – Quero que tente esquecer tudo que aconteceu, está bem? –  disse a garota, segurando-se e gastando todo seu “escudo
anti-lágrimas” – Mas também quero que fique esperta, e ande sempre com algum mais velho que você conheça!
         – Está bem. Mas por que tenho tantos cortes e meu corpo dói tanto?
         – Em pouco tempo você nem vai mais senti-lás, está bem? Vem, eu vou dar um jeito nesses machucados.
         Emily levou Michelle até o banheiro, enquanto Ralph decidia o que fazer com o E.T
         – Buxum Speculum – pronunciou o menino, segundos depois vendo um quadrado enorme de vidro formar-se ao lado do E.T. Antes que a criatura pudesse fazer algo, ele pronunciara por fim “Tenerent”, prendendo-o nessa caixa.
            O E.T por fim acreditava que poderia quebrar o vidro, mesmo estando preso a ele. Esperneava-se, empurrava a si mesmo de um lado para outro, até finalmente exaustar-se de tanto se bater.        
         – Você pode tentar o quanto quiser, só não vai conseguir sair daí. – Informou o bruxo pouco antes de descer as escadas.
         Encontrara, por fim, Anabelle reclamando de dores, Mary individualmente arrogante, e gotas de sangue por volta de Ana.
         – Ana…você está bem?
– Eu acho que sim…o que houve? – respondeu.
Antes que Ralph pudesse começar a falar, Emily desceu com Michelle, ambas com linhas curtas e finas de sangue e a pequena com curativos.
– Miche…– falou Ana com a voz fraca. Olhou de Emily a Ralph, procurando respostas. Parecia desapontada e preocupada.
– Nós não pudemos evitar isso…Ana. Quando descobrimos, ele já estava dentro dela e não tinha nada que pudessemos fazer.
– Se eu soubesse que tinha alguma coisa a ver com a Miche eu não teria descido, teria ido diretamente para o quarto dela. Desculpe, Ana.
– Desculpar pelo quê?
Emily respirou profundamente, e então disse:
– Vou levar a Miche para o parque.
Sem mais delongas, saiu com a pequena em seus braços, seguida por vários olhares estranhos.
Mary fez a típica cara de “que-menina-estranha” antes de subir, sem falar uma sequer palavra.
Finalmente, só restavam Ralph e Anabelle naquela casa. A garota lançou-o um olhar amedrontador, como se já esperasse a pedra que iria cair sob ela.
– Hignoty, mais conhecido como E.T, possui o poder de possuir o corpo de uma pessoa, e tudo que ele fazer afetará a pessoa da qual ele possuiu. Mas, ao mesmo tempo que ele penetra no corpo da pessoa, ele fica preso ao corpo da pessoa até que essa pessoa morra ou ele se mate. Estabele-se uma conexão entre os dois, então tudo que um fizer afetará o outro.
– Então, o Hignoty e conectou á minha irmã? – perguntou, sem entender.
– É, mas enquanto nós mantermos ele a salvo, sua irmã também se manterá.
Ralph parecia particurlamente surpreso, até agora Anabelle não gritou ou chorou. Desejou, por então, nunca ter pensado nisso.
– ELA VAI MORRER E A CULPA É TODA MINHA! – berrou Anabelle, desabando em lágrimas.
Fora um ato tão repentino que Ralph sentiu uma onda emocional derrubar Ana.
– Ela não vai morrer, Ana.
– Vai sim, ela…vai morrer. – disse entre engolidas secas – Eu preciso fazer alguma coisa…algum feitiço, qualquer coisa. Eu preciso reverter isso, preciso reverter…eu preciso…ajuda-la.
– Ana, nós vamos dar um jeito, você só precisa ao menos se acalmar. – tentou Ralph, quase tão desesperado quanto Ana.
         Porém, a garota parecia não ter ouvido uma palavra sequer. Correu escada acima, seguida por Ralph – que se sentia um tanto ofendido pela amiga ter ignorado suas palavras.
         – Ralph, o que era para estar nesse vidro? – perguntou a menina, olhando-o com tal preocupação que mal conseguia conter sua respiração brava e contínua. – E a Mary? Onde está a Mary? Mary!
         O garoto não entendia nada. Em muito pouco tempo, Mary havia sumido sem um grito, o E.T havia se soltado da caixa de vidro, enfeitiçada para ser destruída apenas por fora. Teria Mary alguma coisa a ver com isso?
         Anabelle correu para seu quarto. Ralph revistava o quarto da pequena, com a caixa de vidro quebrada na parte superior. Eram tantas perguntas naquele momento, mas ele só queria saber se Michelle estava bem.
         Sacou o telefone e ligou para Emily.
         Chamou, chamou, mas ninguém atendia. Foi como ligar para os bombeiros enquanto sua casa estivesse pegando fogo, mas eles estarem tomando uma xícara de chá.
         – Ralph! – chamou Anabelle. Não demorou muito para ele ir ao quarto da mais velha.
         Além da janela aberta, alguns objetos quebrados, enfeitiçados, e um quarto completamente desarrumado. Pareceu que houve uma briga ali, antes de alguém fugir.
         Poucos segundos depois, o celular de Ralph tocou apenas uma vez. Era uma mensagem de Emily.
         “Pouco tempo para explicar. Vocês precisam vir no parque, Michelle está em perigo, o E.T escapou. iguaheuibaeg”
         Ralph não conseguira entender as ultimas letras, mas deduziu que alguém tomou seu celular, ou algo do tipo. Sem dar explicações para Ana, puxou-a para o parque mais próximo.
         Estava vazio, e algumas pessoas corriam para longe dele. Aproximando-se mais, podia-se ver o E.T e Michelle, e logo depois duas adolescentes com receio de usar magia.
         Anabelle, após se dar conta da situação, nada fez a não ser correr para perto dela. Ralph tentava impedi-la, tudo em vão.
         – Seu imundo idiota! – gritou Anabelle, quando finalmente alcançou o quarteto. O E.T olhou com profundo desprezo, antes de notar que era a filha de charlotte que estava esperando.
         – Belle! – gritou Ralph, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, a própria Michelle lutava contra Belle.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Capitulo 6 - Passagem para o Inferno.

            – Não...QUE DROGA ANABELLE! – gritou Ralph, sem saber o que fazer.
            – Desculpe-me, eu não queria deixar ele lá, ele foi me empurrando até o portal...e-eu não tive escolha! – retorquiu Ana parecendo engolir a raiva que lhe havia subido com tal força.
            – E agora, como vai ser? Não posso simplesmente ficar parado aqui vendo o portal se fechar e nenhum James aparecer.
            Lentamente, o circulo que uma vez impedira as irmãs Charlotte de chegarem perto de seus amigos agora se desfazia desviando a atenção de todos. Aos poucos, aquela floresta novamente tornara-se um lugar escuro.
            Anabelle relembrou: ela restaurara sua magia. Agora poderia fazer com que ali pegasse fogo novamente, mas não sabia como.
            – Ana... – disse Mary, sentando-se ao lado da amiga. – Nós...nós trocamos de corpo com elas, mas não sabemos direito quem elas são...mas...nós confiamos nelas...deu tudo certo?
            – Elas são Jennifer Ringkong e Katarine Nooky. Eram as amigas de Elisa Charlotte. Grandes amigas. Um trio inseparável. – disse Ralph olhando para o chão.
            – Ralph...se acalme, está bem? Nós vimos James, ele está bem. Não vão matá-lo...eles disseram isso para o próprio James. Vão mantê-lo prisioneiro até que as filhas de Charlotte voltem a frequentar aquele lugar – disse Emily agachando-se pelo lado do amigo.
– Não posso simplesmente esperar até que tenhamos outra oportunidade de ir ao inferno. – respondeu o amigo curto, grosso e irônico.
Michelle apareceu em frente á sua irmã. Parecia não compreender nada.
– Como foi que você fez aquilo? Como você fez magia, Miche?
– Não fui eu... –disse a garota inocentemente.
– Como assim? Então...espera, como assim não foi você?
– Foi mamãe.
– O que? Explique-me essa história melhor menina.
“Ouvi mamãe dizer que iríamos dar uma volta, então eu fui, ela disse que já voltava e que era para eu esperar ali. Fiquei esperando ela dizer algumas palavras e depois voltar para mim. Então ela disse que era hora de nós voltarmos.” Explicou a menina calmamente, como se tudo estivesse normal.
Agora, todos retribuíram sua atenção para o circulo que fechava. Ralph não conseguiu aguentar o olhar de saber que o amigo não iria fazer um daqueles atos heróicos de cinema e pular bem no último instante.
– Vem, Ana...precisamos ir pra casa... – disse Ralph estendendo a mão para a menina. Ela mal podia acreditar que o arco havia mesmo se fechado e que James ainda estava lá.
A menina agora lembrara cem por cento que sua irmã de cinco anos permanecia lá, procurando alguma resposta.
Anabelle então deu a mão para Ralph, e estendeu sua mão livre para a irmã caçula que imediatamente pegara sua mão.
– Ei, Ana, quer que vamos dormir na sua casa hoje? – disse Mary com Emily do lado, ambas em pé.
– Não precisa, a mãe de vocês vão se preocupar. Eu vou ficar bem.
As duas acenaram vagarosamente, e então partiram para suas respectivas casas.
            – Você se importa se eu for para sua casa? Eu não quero aparecer na casa de James sem o James... – começou Ralph sem jeito.
            – Claro...claro. Vamos. – e começaram a trilha para a casa dos Charlotte.

            Algum tempo se passou, e nenhum sinal de portal aberto, James Pakene e nem que passagem para o chamado “Inferno”. Anabelle já não dormia direito, e Ralph? Dormia quase que o dia inteiro afim de não ter que pensar que o amigo está lá...mas não adiantava. Ele sonhava todas as noites com uma coisa que não havia acontecido consigo mesmo.
            Ele estava a metros distante do chão, acabara de despertar de uma inconsciência que lhe custou. Quando levou sua cabeça para baixo, percebera que estava amarrado em um lugar muito parecido com o inferno. Ele tentava usar qualquer magia...qualquer uma...mas se sentia um humano vazio. Sem poderes e nem nada. Ouvira passos cada vez mais fortes e mais altos e, então, uma criatura que Ralph jamais vira ao vivo, mas sabia exatamente quem era, estava extremamente furiosa com outra menor ao seu lado.
            – Kaya, eu lhe pedi para trazer Ralph Hicon também e você me trás o que? Nada! Mando-te numa grande missão e você fracassa! – a voz parecia ainda mais furiosa do que os passos. A filha do demônio parecia se segurar para não estrangular o Gnomo Maligno.
            – Ei! – gritou Ralph...
            Aquela criatura olhou para Ralph como se só notasse agora a presença do garoto. “Ralph, Ralph! Ralph, Ralph” ela repetia. Sua voz ia diminuindo...cada vez mais fraca.
            Ele se encontrava deitado na cama de Anabelle, no que parecia ser uma tarde qualquer com um sol escaldante por trás das cortinas. Olhando mais fixamente, encontrara uma loura com a mão em seu braço aparamentemente preocupada.
            – Você está com o coração muito forte Ralph...teve o mesmo sonho novamente?
            – Ele foi...maior. – respondeu o garoto sentando-se e finalmente reparando que ali também estava Emily. – A filha do demônio estava a minha procura. Mas era eu que estava lá. E quando gritei a minha voz era a de James.
            Ana olhou de Emily, que fez uma expressão preocupante.
            – Está na hora de levantar, Ralph. – disse Emily tirando os olhos do garoto na face de Ana. – Você está muito quente.
            – Como sabe? – por um momento, havia esquecido que existia magia no mundo.
            Anabelle encostou-se a ele, e finalmente o garoto não sentia mais tanto calor. Lembrara-se também que Ana recuperou seus poderes.
            – Tudo bem...ta certo...onde está Mary?
            – Foi estudar formas de abrir um portal. – disse Emily com severidade, sem olhar para a cara dos dois servindo-se de um copo d’água na cabeceira da cama. Parecia pensativa.
            “Nós vamos tentar abrir o portal” disse Anabelle parecendo soltar um sapo da garganta “Eu sei que você não quer nós todas arriscadas e sei também o quanto deseja James de volta mais do que todas nós. Ralph, não vamos voltar atrás.” A garota parou de explicar após perceber que Mary havia chegado.
            – Eu achei! Eu achei! – entrou no quarto gritando de excitação. – Ralph, acorda! – e finalmente levou um susto e calou-se.
            – Deixe-me ver. – disse Ana decidida. Mary entregou-lhe o livro empoeirado e velho, mas que parecia conter linhas de ouro na capa.
           
FEITIÇO DO PORTAL (Ostium Apertum)

Este feitiço requer alto nível de treinamento mágico e capacidade mental.
Quaisquer danos causados serão muito prejudiciais e alguns poderão somente ser tratados em um hospital mágico próximo á você. Este feitiço requer Chakra.

Para executar este feitiço, duas ou mais pessoas precisam conjurar um círculo de água. É dali que irão atravessar o portal. Podem passar apenas uma pessoa pelo portal, enquanto duas outras continuam a colocar suas forças no círculo. Enquanto a força de duas ou mais pessoas penetrar no portal, ele permanecerá aberto. O destino será escolhido mentalmente pelas duas ou mais pessoas que pronunciaram o feitiço.
Erros fatais do feitiço: Pronunciação errada (Energia sugada pelo portal)
Destino não existente: (Possivelmente o bruxo ou bruxa irá parar em algum lugar “sem saída”)
Destinos não recomendados:
Inferno (Requer muito mais energia)
Cidade das Criaturas Místicas (Criaturas não gostam de magia)
Laboratório Mágico (Não pode materializar um portal perto ou dentro do estabelecimento por ser um local de extrema importância)
Cidade do Dinheiro*(Portais não autorizados levam á prisão.)
*Não sendo Dinheiro a ser gasto, e sim a grande mansão central da Política Mágica

– Não, não não...vocês não podem fazer isso! É muito perigoso e requer Chakra! – disse Ralph desesperado.
– Nós temos que tentar! E o que é Chakra?
– É o que faz e refaz sua energia. Se acabar seu chakra, você morre. – disse Ralph convencido de que isso iria mudar a opinião das garotas. – Seu chakra é a base da sua energia, sem ele você não repõe energias, seu corpo...desliga.
– Não faz mal. Se é para salvar o James, nós iremos fazer tudo que for preciso.
            Ralph sentiu a fúria de James se soubesse disso. Mas o amigo também sentiu sua própria felicidade só de pensar em rever o amigo. E também soube que por mais que James ficasse furioso, ele estaria a salvo.
      – Eu só topo se eu puder fazer o feitiço também.
As meninas todas sorriram contentes. Ralph não parara de pensar no amigo e de quanto queria tê-lo de volta.
       – Então vamos! – disse Mary acordando Ralph, que parecia pensar em como seria rever James depois de passadas 2 semanas. – Não temos tempo a perder.
      E finalmente, todos saíram daquele quarto uma vez escuro. Emily acabara por não querer sair de lá tão cedo afinal, fora ela quem abriu as cortinas e ajeitou a cama.
      – Emily, você não vem? – apareceu então Ralph na porta perguntando-se o que a menina ainda fazia ali.
      – Eu... – mas fora interrompida.
      Um grito ecoou por toda a casa. Emily e Ralph rapidamente desceram as escadas e depararam-se com uma Anabelle inconsciente no chão e uma Maryane desesperada.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Capitulo 5 - Por enquanto.

            James correu até o círculo, seguido por Ralph.
            – É tarde, as filhas de Charlotte terão de cumprir seus destinos. – disse a voz de Emily, interpretada por Jennifer.
            – Qual é o destino delas?
            – Enfrentar as criaturas más, que acabaram com metade da família Charlotte. Podemos localizar onde as filhas de Charlotte estão, mas apenas um terá a permissão do portal.
            – Vai você – disse Ralph, com a voz triste – Você que gosta dela e tudo.
            James olhou para Ralph, que confirmou a cabeça, e então deu um passo a frente.
            Jennifer e Katarine juntaram as duas mãos, e começaram então, o feitiço.
            “quod aperit portam, quae preater filias Charlotte” elas diziam.
            – E como faço para sair? – perguntou James no meio do feitiço
            – Você tem trinta minutos até que o arco se feche completamente. Mas apenas uma é possibilitada de atravessá-lo, a segunda fica presa lá para sempre. – disse Mary voltando a pronunciar o feitiço
Abria-se então, um arco enorme, em que gigantes podiam passar. James observou materializar-se diante de si e, sem medo, atravessou-o.
Agora o que estava a frente de um lugar muito quente, quase insuportável. Mas não havia sequer fogo ali perto. Era um lugar escuro, um túnel inocentemente grande. Realmente, ali era algo tão grande, mas tão grande que dois gigantes montados um em cima do outro ainda poderiam fazer com que sobrasse espaço. James esqueceu-se completamente que tinha, ali, uma missão. Olhou para os lados, havia várias entradas gigantes abertas.
Pode-se então ouvir o grito de uma menina de um túnel ao meio. James não tardou de seguir naquela direção – tinha total certeza que era Anabelle – não se importando com o calor.
            Não passou nem trinta segundos e ali havia uma garota parada, encostada na “parede” do túnel redondo junto com outra que se escondia atrás de sua perna, e chegava até o joelho da maior. James logo notou que eram Anabelle e Michelle se escondendo de alguma coisa. Ao ouvirem os passos de James, viraram-se; Michelle chorando e Anabelle ofegando, assustada.
            – Ana. – disse James, correndo até ela. Ela levou o dedo a sua própria boca, fazendo sinal para que ele se silencia-se e apontou para seu lado, que cabia mais uma pessoa.
            James rapidamente se escondeu, querendo saber do que ou porque estavam se escondendo.
            – Precisamos sair daqui, só temos trinta minutos. Não estamos muito longe do portal, é só... – sussurrou James
            – James! – respondeu Anabelle num sussurro mais baixo ainda. – Temos que despistar ele primeiro.
            – Eu tenho um plano melhor. – e sem demorar, James pegou a mão de Anabelle e correu desesperado para o fim do túnel. Lá estava ali, o portal completamente aberto.
            – Muito fácil – disse Anabelle olhando para os lados.
            – Anabelle – gritou uma voz masculina fraca, parecida com a do pai da menina. Ela se virou e se deparou com seu pai todo machucado, se arrastando até o pé da menina.
            – Pai? – disse ela duvidando.
            – Precisa me ajudar, por favor, ajude-me! – implorou o homem, com a voz cada vez mais fraca.
            A menina rapidamente se dirigiu ao homem com uma cara de dúvida, afinal, o que seu pai fazia naquele lugar infernal?
            Ele levantou os olhos para a menina, e assim que chegara e o colocara de pé, ele simplesmente evaporou, virou poeira. A menina olhou para James e Michelle, os dois querendo saber o que havia acontecido ali. Mas então, a poeira se levantou, sem ajuda de nada. Formou uma criatura medonha, sem nariz, nem olhos e nem boca. Mas estava longe de ser algum demônio. Parecia a filha do demônio, com certeza era alguma menina. Possuía o cabelo preto, a pele era um vermelho acinzentado, cheio de rugas e quase descascando. Seus olhos eram brancos, suas pupilas cinza e possuía também um sorriso de puro desdém sobre a filha de Charlotte, e esta a olhava com puro desentendimento e medo. James empurrou Anabelle para trás, pronto para lutar com aquele monstro.
            – Não seja atônito – disse a voz do monstro feminino. Ao contrário do demônio, possuía sua própria voz; fina, forte e medonha. Lembrava a todos alguma cobra qualquer. – Deixe as filhas de a tola Charlotte enfrentarem seu destino e não quebre seu coração outra vez.
            – Cale sua boca! – gritou James, empurrando a filha do demônio para direto ao chão – Não é o destino delas, sua estúpida! Ite in ignem
            No instante seguinte, a filha do demônio estava muito próxima a cair num poço profundo que se formara ao seu lado. Não de água, e sim de fogo. Olhou desdenhosa para o menino, sorrindo maliciosamente. Tocou com a ponta do seu dedo indicador direito ao fogo, e então, seus olhos atribuíram uma cor vermelha-vinho, que lembrava muito os olhos de algum vampiro. Correu em direção ao James, olhou diretamente para seu braço e dali se pode ver um corte profundo se abrindo. Seria essa filha do demônio bruxa também?
            Michelle segurou a mão da irmã com uma força inacreditável para alguém de dois anos. “Tranzi soror sororis. Tranzi soror sororis. Tranzi soror sororis”. Anabelle sentiu uma força extremamente sobrenatural vindo para si, parecia sua magia voltando. Olhou confusa para sua irmã que continuava a pronunciar as mesmas palavras. Parou, olhou para a irmã mais velha e lhe esboçou um sorriso que fora retribuído com tal sinceridade.
            – An-a. – disse James que parecia sem ar. Anabelle rapidamente olhou, ele estava sendo enforcado
Ire. Bonum semper cladis malum.
A criatura foi puxada para trás, balançada e jogada no chão. Anabelle correu até James que ofegava. Anabelle levou sua mão até Michelle, que flutuou e passou pelo portal. Antes que Anabelle e James pudessem ter sua mesma chance, a criatura materializou-se como alguma espécie de dragão. Na verdade era uma criatura toda feita de chamas. Sua pele era marrom, parecia estar viva, se mexia o tempo todo. Seus olhos eram puro fogo, tinha dois chifres e sua altura ia até o teto daquele túnel enorme. James consultou o relógio. Eles só tinham 15 minutos agora.
Anabelle esticou o dedo para a criatura, e este soltou um jarro de água suficientemente alto para “apagar” as chamas daquela criatura. Foi empurrando James até o portal, parados por apenas três succa-maleum. Enquanto Anabelle apagava a criatura e restaurava a filha do demônio, James cuidava das três aranhas que tentavam mordê-lo. Apenas com movimentos nas mãos, todas viravam apenas uma poça de água.
A criatura gigante foi se abaixando, e virou novamente a filha do demônio. A mesma criou tanta raiva que sua pele agora se tornara um azul bebê. Seus cabelos agora eram completamente brancos e brilhantes. Havia mudado completamente de aparência física, a não ser pela pele enrugada e desgastada. Parecia que agora era imune á água.
– Vá para o portal, eu fico aqui. – disse James afastando Anabelle da filha do demônio.
– Não, não, nem pensar. – disse a menina, decidida – Agora que minha magia voltou, eu não vou ficar apenas vendo você me defender.
– ANABELLE! NÃO ME OBRIGUE A USAR MAGIA CONTRA VOCÊ. VÁ PARA O PORTAL IMEDIATAMENTE.
Anabelle possuía uma cara de pouco medo, olhava para James, séria. Ficou ali parada.
James empurrou a menina para o lado, levou uma mão á sua frente e algo parecia empurrá-la para o portal, querendo ela ou não. Finalmente entrara no portal, deixando James ali, sozinho.
– Tudo isso por uma garota? – disse o monstro feminino calmo, olhando para James com desdém.
– Se quer me matar, anda, me mate. Mas eu não vou deixar que faça alguma coisa com ela.
– Seu tolo! Não queremos matar você, você é nossa isca.
E assim, levou o garoto á força para o túnel do meio.
Anabelle atravessou o portal, e se encontrou novamente naquela floresta escura, com apenas uma luz do fogo. Todos a olhavam atentamente.
– Ele ficou lá, quis me salvar, e não quis vir. – disse ela, completamente abalada.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Capitulo 4 - De volta para o início.

Ana, mesmo morrendo de dor, pulou da janela observando a silhueta do demônio, iluminado por apenas algumas luzes da rua. Podia se observar a menina no seu colo que agora, inconsciente, balançava de lá para cá.
Não demorou a que pudesse se ouvir novos pulos da janela, perseguindo Ana, que já estava bem adiante. Primeiro, segundo, terceiro, quarto pulo. James, Emily, Mary e Ralph já haviam pulado e agora perseguiam Ana que perseguia sem medo o demônio.
– Belle, me salve desse monstro horrível! – gritou a voz de Michelle vinda da boca do demônio. Era tão real.
Cadent in terram. – uma voz vinda da escuridão, desconhecida, falara essas palavras e segundos depois o monstro caíra no chão. Quem via de longe poderia achar que havia uma pedra invisível no caminho em que corriam.
Ana não tardou. Nervosa, a menina correra até o monstro que ainda estava se levantando.
Inesperadamente, a mão – ou o que parecia ser a mão – do monstro pegou o braço da pequena Michelle ainda inconsciente e, segundos depois, desaparecera dali mostrando um sorriso maligno para todos que o observavam.
Aquilo que havia feito o monstro cair no chão fugira tão depressa que tudo que se pode ouvir eram seus passos correndo. Ninguém notara quem era.
– O que eu faço agora? – disse Anabelle, desabando no chão. – Ele levou minha irmã.
– Ele não vai fazer nada com ela enquanto souber que ela é sua isca. É você que ele quer Ana. – disse Ralph agachando-se ao lado da menina. – Não sua irmã.
– Ele pode maltratar ela, não pode? Eu preciso achar ela, eu preciso. – disse a garota, desconsolada.
Mary, Emily e James agacharam-se também, formando, então, uma roda em volta de Anabelle.
                – Nós vamos achar ela Belle, eu prometo. – disse James, com piedade em seu olhar. – Vem...vamos voltar para a sua casa.
            – Não...ela vai voltar, eu tenho que esperar ela aqui. Não posso ir... – respondeu a garota, com uma voz sonolenta, cansada.
            – O que está acontecendo? Por que ela ta tão cansada? – perguntou Mary olhando para todos.           
            – Provavelmente...Miche está usando os poderes dela, para alguma coisa muito forte. Ana! Ana! – disse o garoto, observando que a garota dormira. – Precisa manter-se acordada, ver se acha alguma pista de sua irmã.
            Ana abriu os olhos, continuava sonolenta.
            – Uma floresta. – falou a menina. Parecia citar o que via a sua frente. – Ali está o monstro, na floresta. Uma floresta perto daqui. Aquele bruxo que fez o monstro cair...ele...está na floresta... – a menina foi perdendo a voz – tem um círculo de fogo...
            Ralph pegou a menina no colo e foi o primeiro a seguir para a floresta. James o parou.        
            – Não podemos levar a Ana! E se ele fizer alguma coisa com ela?           Está fraca demais até para andar!
            – Se alguma magia acontecer com a Miche, a Ana vai ser a única capaz de desfazer isso e você sabe! Temos que levar ela.
            James bufou. Obviamente não achava uma boa ideia, mas sabia que o amigo estava certo quanto á magia. Ralph observara que ganhara a discussão e continuou seu caminho para a floresta. Emily e Mary, de mãos dadas, pareciam fazer algum ritual, alguma coisa que transmitia energia de uma para outra, fazendo ambas fortes.
            Já estava meio caminho quando puderam ouvir, até de longe, gritos de uma menininha de dois anos perdida, assustada, com medo.
            Sem pensar duas vezes, seguiram o rumo da origem do grito, Ralph segurando Anabelle – que ainda sim dormia –, James ao lado deles, observando Ana e Emily e Mary logo atrás, olhando para todos os lados, de mãos dadas.
            Finalmente chegaram. Um círculo formado por tochas, todas acesas com um fogo incrivelmente bonito dava luz ao local. Michelle se encontrava ali, parada, parecia hipnotizada. Olhou para os dois lados e percebeu a chegada do grupo, e então voltou sua cabeça para frente, indiferente. O demônio de repente chegara até onde a luz do fogo poderia localizá-lo. Observou a menina para lá e para cá, parecia esperar que alguma coisa acontecesse.
            A menina ergueu a mão para o fogo, ele pareceu se materializar. Alguma criatura apareceu ali, mas foi desmanchando, formando uma verdadeira roda de fogo.
            Anabelle gritou.
            O demônio, que aparentemente não tinha nenhum alvo para mexer com seus medos, seguiu da onde vinha o grito da menina. Ralph correu para o lado, seguido pelo grupo. Teria sido um sucesso, a não ser pelos barulhos que cada passo fazia.
            Agora Michelle gritara. Anabelle acordou repentinamente, parecia que toda sua energia havia voltado, a menina acordou com tal energia que caíra do colo de Ralph, provocando outro barulho. Não tardou a levantar, por mais que estivesse confusa de que lugar era aquele, ou o que estava fazendo ali. Michelle se encontrava, então, deitada no chão. Parecia ter desmaiado.
            – Miche – Anabelle correu em direção ao círculo do fogo, e só parou quando a menina novamente se levantou. Já estava em completa visão, a poucos passos do círculo. O demônio apareceu ali, satisfeito com a isca perfeita.
            – Vamos, Belle, entre no circulo! Salve sua querida irmã – ele possuía a mesma voz de Michelle, aparentemente não possuía voz própria.
            Ralph correu em direção á Ana, seguido por James. Apenas Emily e Mary ficaram ali, paradas. Tramavam algum plano, mas não se podia saber exatamente o que.
            Para a surpresa da maioria, Jack aparecera ali, com a boca sangrando por inteira.
            – Ora, se não é o vampiro salva-vidas. Fiquei sabendo que agora tem atacado humanos, Jack. Duvido que seu irmão fosse gostar – ele possuía uma voz de um rapaz de aparentemente 18 ou 19 anos, mas bem maduro. – se te visse assim, atacando tudo que vê pela frente.
            – Cala a boca, chupa-dedo. – retorquiu o homem, morrendo de raiva.
            – Vamos todos ser calmos aqui, sim? – disse o demônio – Jack, por que se preocupa em salvar a vida dos outros? Já que não salvou a do seu irmão...
            Antes de terminar a frase, Jack já estava em sua frente, e chutou onde, na maioria das pessoas, ficava algo intimo.
            – JACK! – gritou James, que parecia um tanto ocupado. – SAIA DAÍ ANTES QUE ELE SE LEVANTE.
            – Não tenho medo da morte, Jamesinho! – falou o homem, olhando com tanta fúria para o demônio que seu rosto ficara vermelho.
            – Belle! – gritou a voz da irmã mais nova de Anabelle. Dessa vez era realmente a menina. Ela parecia chorar, mas ao em vez de lágrimas, aquilo era sangue.
            Ana, ao perceber isso, correu para o círculo, e apenas parou quando uma enorme parede pareceu se materializar ali, impedindo que Ana atravessasse. A menina recuou e a parede desmoronou.
            – Miche, fique...fique calma. Vamos te tirar daí!
            O demônio levantara, agora possuía nada mais que uma cabeça que queimava, mas sem causar nenhuma dor. Parecia que a fúria era enorme.
            Não tardou que Anabelle entendesse o que aquilo era. Se alguém machucava o demônio, ele ficava duas vezes pior que em seu estado normal. 
            Mary e Emily finalmente saíram das sombras. Pareciam possuídas, estavam tão sérias, como se nada ali acontecesse.
            O demônio hesitou, parecia o único a entender as coisas por ali.
            – Mary? Emily? – disse James confuso.
            Nenhuma delas olhou.
            – Katarine? Jennifer?
            As duas olharam por alguns segundos, e voltaram a direção para o demônio. Agora se aproximavam mais e mais dele, ele com a mesma fúria e cabeça pegando fogo.
            Mary – ou Katarine – apontou a mão para o círculo, sem tirar os olhos do demônio. Segundos depois, se materializou uma porta aberta. Anabelle, sem exigir explicações, entrou no círculo não sendo detida por nada. A porta se fechou. Mary simplesmente parou a magia. Emily – ou Jennifer – colocou a mão no ar, fechou-a e de repente um círculo de fogo prendia todos ali dentro. Ninguém entra ninguém sai.  
            Jack recuava enquanto Mary e Emily se aproximavam do demônio. Parecia que se ele ficasse perto delas, alguma coisa bem feia poderia acontecer. De repente, as duas pararam. Fixaram no demônio, que parecia congelado, com muito medo. O monstro então sentiu sua cabeça explodir, começara a gritar, mudando de voz, era uma coisa extremamente irritante de se ouvir. Ele sofria, estava em seus olhos. Agora os olhos ficavam pretos, o animal todo perdera o “fogo” que havia em si. Sua dor passara, ele se ajoelhara para Mary e Emily, ambas com um olhar de puro desdém e ódio.
            – Não vai ser tão fácil assim, vocês vão ver. – disse o demônio interpretando uma voz masculina que lembrava algum pai tão, mais tão rigoroso que dava ódio só em ouvir sua voz. – e, num ato de rapidez, ele pulara para dentro do círculo. – O que devo fazer com vocês, huh? – disse ele, ainda com a voz rigorosa. – Duas filhas de Charlotte. Devem vir comigo, é claro.
            Ninguém entra ninguém sai. Nem mesmo Katarine ou Jennifer foram capazes de entrar no círculo, era muito tempo para desfazê-lo, e uma vez que a porta já havia se fechado, não havia tempo suficiente. No piscar de olhos, não havia mais nenhuma filha de Charlotte e nenhum monstro. Haviam perdido o alvo, e dado de brinde mais dois para o demônio.

domingo, 6 de novembro de 2011

Capitulo 3 - O demônio.

                As gotas caiam, cada vez mais rapidamente.
            – O sótão. – disse James olhando para Anabelle apreensivo. – O que você viu lá era mesmo um demônio?
            – Das criaturas que eu conheço. – respondeu como se fosse óbvio.
            – Ana, leve sua irmã para a casa de Emily e diga para Ralph vir aqui imediatamente.
            Sem falar nada, a menina se apressou a pegar sua irmã, e segundos depois – ou assim pareceu – já estava no quarto de Emily, onde festejavam a morte de Succa-Maleum
            – Ralph, James pediu para ir até o sótão da minha casa, agora. – disse ela fingindo não notar que estragara a “festa” no quarto.
            – Claro, já estou indo. – disse o garoto indo para a porta e fazendo menção de Anabelle ir para dentro – Não saiam desse quarto, por nada nesse mundo. – fechou a porta e saiu.
            Michelle parara de gritar e chorar, agora só mostrava uma cara de medo, assustada, olhando para a irmã.
            – Calma, Miche, está tudo bem agora. Pode me dizer por que começou a gritar?
            – Eu vi mamãe. – disse a garota tristemente. – estava cheia de cortes pelo corpo e tinha sangue.
            – Mas mamãe está viajando, lembra? Como pode ter visto ela?
            – Eu não sei, Belle. Ela só estava lá – respondeu inocentemente.
            Anabelle olhou para Mary e Emily, as duas apreensivas e, aparentemente, com muito medo.
            – Tudo bem, está tudo bem, ok? – e a garota, por fim, abraçou a irmã que se encolhera em seu colo.
            Mary apressara-se a sair do quarto e verificar o que acontecera, mas Emily rapidamente a impedira.
            – Lembra o que Ralph disse? Que não devíamos sair daqui. É melhor ficar, ainda não sabemos magia o suficiente para nos protegermos. E proteger as duas – e por fim, apontou com a cabeça para Anabelle e Michelle.
            – Eu quero saber o que aconteceu lá, eu não sei magia para proteger todas nós, mas sei para mim mesma. – respondeu Mary, decidida. E antes que Emily respirasse, saiu do quarto. Emily seguiu-a.
            – Onde elas foram? – perguntou Michelle olhando para a porta aberta.
            – Foram ajudar Ralph e James. Temos que ficar aqui está bem?
            A menina confirmou com a cabeça. Por fora, Ana lhe mostrava um sorriso como quem diz “tudo vai ficar bem”, mas por dentro, a garota congelava de medo, afinal, não teria muito de fazer sem seus poderes. E sua irmã não sabia usá-los.  
            Começou a rezar baixinho. Sempre acreditara na bondade que o mundo tinha, até em momentos mais escuros.
            “Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja vosso nome, tenha vós o nosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que vos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.”
            Alguma coisa aconteceu. Alguma coisa estranha, bonita. Faíscas brancas pareciam tomar conta da casa. Uma criatura gritara, e saíra da casa correndo. Não era um humano, parecia o mesmo que havia no sótão. Alguém muito claro, que parecia na paz, aparecera entrando no quarto.
            – Mamãe? – disse Anabelle extremamente confusa – Por que está toda de branco, assim? O que aconteceu? Quando voltou da viagem?
            A mulher apenas sorriu, acenou como uma despedida e disse “Eu amo vocês duas”. Anabelle entendeu. Michelle ainda parecia muito confusa.
            – Eu também te amo, mãe. – disse Ana com lágrimas nos olhos.
            Lentamente, ela ia sumindo. Pode-se, por fim, ouvir um “Protegerei vocês, é uma promessa de bruxa para bruxa” antes de vê-la sumir completamente.
            – O que aconteceu? Cadê a mamãe? – perguntou Michelle
            – Encontrou paz, Miche. Ela...voltou a viajar.
            Ralph, Mary, Emily e James apareceram na porta, aparentemente estavam correndo.
            – O que aconteceu lá?
            – Foi...depois eu te conto – disse James olhando para Michelle. – O que aconteceu aqui?
            – Aparentemente o demônio ou alguma criatura maligna no tamanho de um humano estava pronto para me atacar até minha mãe chegar aqui. Ele saiu correndo, alguma coisa assim.
            – Mas sua mãe... – começou Mary aos prantos
            – Eu sei...eu sei. Pelo menos pude dizer adeus á ela. – disse a garota tomando cuidado com suas palavras – Agora que ela foi viajar...por um longo tempo.
            Maryane, Emily e Anabelle, todas com lágrimas nos olhos, acharam melhor melhorar o clima.
            – Esta ficando escuro, eu vou ficar lá em casa com a Miche...meu pai vai me matar se me ver fora de casa – disse Anabelle, com a voz baixa – se eu precisar de alguma coisa eu chamo alguém.
            – Ana...não está segura para ficar sozinha. Esses dias você dormiu sempre na casa de alguém... – falou Ralph
            – Eu vou estar protegida – interrompeu-o Ana, irritada – Eu sei disso.
            E saiu, carregando Michelle no colo, atropelando todos a sua frente.
            – Ela não sabe que o mal existe também? Alguém precisa ficar de olho nela.
            Todos olharam para James. Aparentemente esperavam que ele dissesse algo do tipo “Eu cuido dela” ou “Deixem isso comigo”, mas o garoto apenas olhou confuso, dizendo na verdade “O que foi?”
            – Você vai pedir para ficar de olho nela, não vai?
            – Eu só tinha pensado nisso...não ia falar.
            – O.k, mas James, por favor, você precisa ter cuidado. Elas dormem em quartos separados e você precisa cuidar das duas.
            – Eu o ajudo, ele não pode cuidar de duas garotas inocentes, sozinho – disse Ralph recebendo um olhar de “obrigado” de James.
            – Ótimo, mas, por favor, se precisarem de QUALQUER coisa nos chamem, entenderam?
            Os meninos confirmaram com a cabeça, e seguiram até a casa de Emily.
            Ralph ia entrando pela porta da frente, sem ser meramente discreto, mas foi puxado por James.
            – O que acha que ela vai dizer se nos vir entrando pela casa assim, sem mais nem menos?
            – Certo...vamos escalar a arvore que dá até a janela dela. Então, nós abrimos a janela com magia, sem fazer barulho, e eu vou ver Michelle e você toma conta da Anabelle.
            – Ok, ok, anda logo.
            Ralph foi o primeiro a escalar a árvore, seguido de James.
            O quarto de Anabelle estava escuro, aparentemente alguém que dormira e esquecera-se de fechar as cortinas. Mas olhando a cama, estava totalmente arrumada, e podia se vir uma garota ali chorando baixinho olhando pela janela o luar.
            – Ela está acordada – sussurrou Ralph – Como vamos fazer?
            – Deixe isso comigo. – e antes de raciocinar algum dos ruídos da voz de Ralph, James fora em direção a janela que a menina não estava olhando, e batera de leve nela.
            Anabelle olhou, secou as lágrimas e abrira a janela, rápida e alegremente.
            – O que faz aqui, James? Eu disse que estaria segura.
            – Eu só quero que esteja ainda mais, Ana. Posso dormir aqui hoje?
            – E seus pais? Não vão estranhar?
            – Não, eles sabem exatamente o que eu estou fazendo, só preciso avisá-los que estou bem de quando em quando.
            – Uau. E os pais de Ralph? – disse a garota que observara o menino na árvore. – Também sabem disso?
            – Os pais dele, ahm...morreram. – disse o garoto, parecendo que soltou o diabo. – Ele tenta continuar vivendo, não quer arruinar a vida, sabe? Mas sei que é difícil. Ele vive comigo, somos praticamente irmãos. 
            A garota olhou para baixo, desejando que alguma coisa quebrasse o gelo da situação.
            – Sobre aquilo no sótão... – começou James
            – Não, tudo bem. – interrompeu a menina – eu...é que...não pareceu...o momento certo. Não pareceu certo. Em todos esses problemas, é só que...você consegue me entender?
            – Tudo bem...entendi. Ei, Ralph vai ficar vigiando sua irmã, está bem?
            Ralph entrara no quarto, fingindo um sorriso no rosto. Era obvio que não era verdadeiro, estava na cara.
            – Ralph... – começou Anabelle – sinto muito.
            Entendendo como o garoto se sentia, abraçou-o, sentindo algumas lágrimas caírem quando retribuiu seu abraço.
            – Sua mãe encontrou paz, ela é um anjo agora, literalmente. Por isso você pôde vê-la, Ana. – disse o rapaz terminando de abraçá-la – É como se ela tivesse terminado todos os deveres na terra, entende? É muito complexo. Mas meus pais não. Eles não terminaram o que tinham de fazer aqui...eu não consigo encontrar eles. E acho que nunca conseguirei.
            – Ei, eles estão com você, está bem? Não preciso dizer onde, você sabe. Confie em mim.
            – Eu venho tentado falar isso a ele faz anos, e nunca exatamente entendeu. – interrompeu James
            Ralph riu de leve, parecia ter entendido o recado. Sorriu em agradecimento para Anabelle que retribuiu do mesmo modo.
            “BELLEEEEEEEEE!” gritou a voz de Michelle do seu quarto, apavorada. Ana virou a cabeça tão rapidamente que pareceu que ia deslocar. Correu para o quarto da irmã e se deparou com uma miniatura de sua forma quando o demônio entrou em seu corpo.
            – FAÇAM ALGUMA COISA, AGORA! – berrou a irmã mais velha ao ver sua pequena irmãzinha naquele estado, dentro do berço.
            Podiam-se ouvir as duas vozes trabalhando juntas no mesmo feitiço que James usara para tirar o demônio de Anabelle: “Get rid of malum ivenitur spei”. Após repetirem três vezes, Michelle voltara ao normal.
            Anabelle correu em direção a Michelle, mas alguma coisa estava a sua frente, invisível, mas que parecia ser alguma coisa sólida.
            Ana fez menção de colocar a mão nisso que era sólido mas invisível, segundos antes de irem aparecendo partes dessa coisa, dos pés, depois para a coxa, a barriga, o peito, e diretamente com o pescoço, a cabeça. Não era um humano, passava longe de ser. Sua cabeça era monstruosa, alguma coisa que assustava crianças. Não possuía nariz nem boca, muito menos olhos. Era o formato de uma cabeça humana, com lugar para a boca, para o nariz e para os olhos, mas sem nada. Era tão “vazio” que dava um medo enorme. Parecia uma criatura feita de pano, mas antes de chegar a conclusão que seria mesmo de pano, foi se transformando em uma pele de cobra, com cor de pele normal. Finalmente os olhos iam aparecendo. Ao em vez de um olho normal, a esclerótica era vermelha, como se todas as veias do olho haviam estourado, e suas íris eram em baixo vermelho, no meio laranja e em cima amarelo, representando as cores do fogo. A boca tinha formato como se fosse de alguém morto. Os lábios eram cinza, os dentes todos pontudos e amarelos. Apenas seu nariz aparentava ser alguma coisa normal.
            – ANA! – gritou James, antes de entrar no quarto e puxar a garota para fora – É um demônio, Ana!
            – MINHA IRMÃ ESTÁ ALI! – gritou, voltando para o quarto, á frente de Ralph e James
            – Você é estúpida, Belle. – disse a voz do demônio, uma voz igualzinha a de sua irmã – Você nunca vai conseguir me salvar, Belle. Nunca foi uma boa irmã! Sua idiota!
            – Michelle? – gritou a garota, que aparentemente achou, por um momento, que era mesmo sua irmã falando.
            – Não, você não vai mexer com os medos dela, eu não vou deixar. – berrou James, fazendo o demônio virar-se para ele.
            – Seu tolo. – disse o demônio, que agora interpretava a voz de uma garota, aparentemente de quartorze anos – Desista agora e você não vai precisar morrer para salvar a vida de outra garota que não te quer.
            James pareceu desabar. Anabelle pareceu confusa, já Ralph olhou para James com um tanto de piedade.
            – Ele está MENTINDO! – disse Ralph correndo até James que parecia desconsolado.
            Agora o demônio virara para Ralph, Ana tinha certeza de que voz ele iria interpretar.
            – Filho ingrato! Eu morri por você, e não faz nada em troca. – disse uma voz masculina, que parecia de alguém extremamente simpático – Não sabe quanto eu e sua mãe batalhamos para ver você bem, e olhe em que buraco foi parar.
            Anabelle, discretamente, pegou seu celular e ligou para o número de Emily, e deixou o celular no chão, no viva-voz.
            – SEU TOLO! PARE DE BRINCAR COM OS SENTIMENTOS DOS OUTROS – gritou Anabelle querendo atenção do monstro
            – E você vai tentar me matar, Belle? – disse novamente a voz da irmã.
            Ana olhou para o berço, onde sua verdadeira irmã chorava em silêncio, observando a cena, tomando cuidado para que ninguém a notasse. Depois virou os olhos para Ralph e James, os dois pareciam tentar esquecer o maior medo de suas vidas.
            Obviamente, era muito real que estivesse a voz de sua irmã ali.
            – Ana, não dê atenção a o que ele diz, entendeu? – disse James olhando para Ana, ainda muito abalado.
            – Olha quem fala – disse a garota com desprezo. – James, vamos, você não vai perder mais ninguém. O que ter que tenha acontecido, nunca acontece de novo. Nunca da mesma forma, nunca termina igual.  E Ralph, você sabe que seus pais nunca diriam isso a você. Eu vejo muita bondade em você, e tenho certeza que isso veio dos seus pais. Eles nunca diriam algo tão estúpido, vocês sabem disso.
            Agora, o mesmo rugido que Anabelle tinha dado naquele dia, reapareceu na voz do demônio. Ele chutara o estômago da menina e a fizera bater a cabeça na porta, depois caindo no chão.
            – Ana! – gritaram James e Ralph, ambos com muita raiva do demônio.
            Mary e Emily apareceram correndo na porta, Mary com um telefone na mão e Emily com os punhos fechados.
            O demônio as viu, e recuou completamente até bater no berço de Michelle. Virou-se, encarou a menina, que temia de medo, e então, pegara ela e colocara pelo ombro, de cabeça para baixo. Segundos depois, deparou-se aquele quarto com uma janela quebrada, um berço vazio e um ambiente sem nenhum demônio.